Compositor, multiinstrumentista e escritor em conversa afinada com exclusividade!
Por Elias Nogueira
José Rodrigues Trindade, conhecido nacionalmente como Zé Rodrix, carioca, 60 anos, compositor, publicitário e escritor. Filho de um mestre-de-banda, estudou no Conservatório Brasileiro de Música e na Escola Nacional de Música, onde aprendeu, além de teoria musical, harmonia e contraponto, piano, acordeom, flauta, saxofone e trompete.
Além de carreira solo bem sucedida, Zé Rodrix fez parte de importantes grupos musicais. Em 1966 integrou o conjunto Momento Quatro, com quem se apresentou no III Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967, acompanhando Marília Medalha, Edu Lobo e o Quarteto Novo com "Ponteio". No início dos anos 70 foi integrante do Som Imaginário. Integrou grupos conceituados como o trio Sá, Rodrix e Guarabyra e o grupo pré-punk Joelho de Porco.
Autor de sucessos, em sua própria interpretação, como "Soy latino americano" e “Mestre Jonas” e na voz de outros cantores como "Casa no campo", composta em parceria com Tavito, que se tornou uma pérola na voz de Elis Regina.
Como escritor, desenvolveu uma trilogia composta por "Johaben: Diário de um Construtor do Templo" (1999) , "Zorobabel: Reconstruindo o Templo" (2005) e "Esquin de Floyrac: O Fim do Templo" (2007). Seus livros são literatura recomendada nas Lojas Maçônicas. Fez jingles memoráveis no mercado publicitário nacional. Em entrevista exclusiva, Zé Rodrix, fala de carreira e outras coisas!
- O que Zé Rodrix anda fazendo profissionalmente?
- Tudo que sempre fiz, e mais um pouco. Tenho um birô de criação chamado Crianon, trabalhando para vários clientes do mercado nacional. Faço shows com Sá e Guarabyra desde 2001, com Tavito desde 2006 e comigo mesmo desde 2007. Além disso, já lancei os três volumes da “Trilogia do Templo” (Editora Record) que estão sendo negociados para lançamento em Portugal e Espanha em 2009. Com o trio estamos gravando mais um CD (36 Anos de estrada) e no fim do ano, lanço meu CD/DVD “As Canções”, gravado com a Jazz Big Band da Associação dos Artistas de Santos.
- O que dá mais prazer ao Zé Rodrix? Ser compositor, multiinstrumentista, cantor, publicitário ou escritor?
- Meu prazer é fazer tudo que sei fazer, porque o desprazer está sempre em ter que fazer o que nao sei.
- O Zé Rodrix, um dos diretores do espetáculo “Rei lagarto”, sobre a vida de Jim Morrison, pediu demissão. Tomou a decisão ao saber que a peça, com Lei Rouanet. Como foi isso?
- Não acho honesto que o dinheiro de todos (impostos) seja gasto no financiamento da aventura pessoal de alguns. Se desejam financiadores, que busquem sócios no mercado real, como eu sempre tenho feito. Ou então se preparem, ao usar dinheiro público, a fechar a bilheteria de seus espetáculos e dá-lo ao publico, de graça, como forma de devolver ao dono do dinheiro aquilo que foi usado.
- Você esteve presente na grande mídia durante muitos anos. Atualmente você anda afastado dela.
- Estar na mídia, hoje em dia, significa pagar para estar nela. Como só me aproximo da mídia em meu próprio benefício, seja para aparecer, seja para ganhar, não estou mais no caríssimo carrossel de tolices que passa por mídia hoje em dia entre nós. E garanto que não me faz falta. Nunca trabalhei tanto, nunca tive tantas oportunidades se avolumando. Nunca ganhei tanto dinheiro, que gasto comigo mesmo, e não com a mídia. Talvez o respeito que eu esteja colhendo daqueles que me são importantes, estejam exatamente nisto que você chama de “estar afastado da mídia”.
- Você fez parte dos grupos: Momento Quatro, Som Imaginário, Sá, Rodrix e Guarabyra e Joelho de Porco.
- São grupos que serviram para formar o meu respertorio de conhecimentos musicais, e ainda tenho em todos eles inumeros amigos de fé e do peito. Convivemos sempre que possível, e o trio está atualmente gravando mais um CD depois de nossa volta em 2001.
- Você teve uma carreira solo onde obteve um grande êxito, mas mesmo assim, ingressou no Joelho de Porco.
- O Joelho nao era um grupo musical, era uma terapia caríssima e divertidíssima, que colocavamos em prática cada vez que precisávamos divulgar a nossa produtora de publicidade. Como sempre dizíamos, “só existe uma coisa mais ridícula que levar conjuntos de rock a sério: é (levar-se a serio) em conjuntos de rock…” Não houve nenhuma troca. Eu enchi o saco da cena musical e resolvi me afastar dela conscientemente, o que durou de 1982 ate 2001.
- Recentemente você teve alguns de seus discos relançados em CD?
- A EMI Odeon lançou em CD meus três primeiros discos solo, e o fez sem me avisar. Nem pediu permissnao para isso. Minha vingança é que eu ja tinha conhecimento de copias piratas dos mesmos, vendendo na galeria do Rock. Por isso fui la e autografei todos. Prefiro ser roubado pela iniciativa brasileira que por uma major internacional…
- Você participou do primeiro disco dos Secos & Molhados.
- Eu, junto com Luli, quem apresentou Ney ao João Ricardo. Dai em diante, nos mantivemos em contato, principalmente através do Moracy Doval, empresário deles. Na época da gravação do LP, me convidaram para tocar e escrever as cordas de “Fala”, última faixa do disco. Infelizmente, por algum problema, que não entendo, minha participação foi desqualificada, porque não mencionaram nada que eu tenha feito a não ser estas cordas. O acordeom do “Vira”, o solo de moog em “Fala”, pianos em duas outras faixas que não me recordo. Quando foram fazer o segundo disco, me chamaram para repetir a performance, gentilmente recusei. Ney, ao se separar do grupo, gravou uma música minha com Sá chamada “O povo do ar”.
- Gostaria que comentasse sobre algumas músicas que são emblemáticas, em minha opinião, no repertório da música brasileira.
Quando Será?
- Uma mote cubano, muito utilizado em Porto Rico - quando sera el dia de my suerte, sé que antes de my muerte este dia llegará - e que eu coloquei em outro contexto, criticando a eterna esperança nacional, que nunca resulta em nada, mas mantém os esperançosos vivos para sofrer mais um dia.
Mestre Jonas
- Mais uma de minhas canções com inspiração da Bíblia. Guarabyra me chamou a atenção para este personagem, e eu, sem paciência para esperar por ele, acabei fazendo a música sozinho, ressaltando o lado Jonas moderno que todos nós possuímos.
Casa no Campo
- Letra feita num ônibus entre Brasilia e Goiania, em 1971, que Tavito musicou logo que chegamos ao hotel. Só fomos lembrar dela quando nos pedirm uma música pra o Festival de Juiz de Fora de 1971, que ganhamos. Um dos prêmios era participar do Festival da Canção da TV Globo, e a Elis ouviu a música e quis gravá-la.
Soy Latino Americano
- Uma “guajira” cubana tipica ( três acordes que vão e vem ) e uma intenção crítica. Revelar os defeitos de carater do brasileiro da época. Estranhamente, todos os consideram qualidades, e este foi o motivo do sucesso da música. A identidade entre o personagem e quem se encontrou retratado por ele.
Devolve meus LPs
- Mais uma “festa de arromba”, lista de artistas que na época estava todo mundo fazendo. Só entrou no LP para ocupar espaço, e não tem realmente nenhuma importância. Pelo menos pra mim.
O Espigão
- Feita por encomenda para a novela da TV Globo, era a abertura, gravada com minha banda da época, a Agência de Mágicos, retratando com a maior fidelidade possivel os novos-ricos que começavam a infestar o Brasil.
Ilha deserta
- Uma de minhas cancões preferidas, tando de música quanto de letra. A idéia de que “nenhum homem é uma ilha” invertida como sinal de liberdade naqueles tempos em que ela ainda era bem pouca, e acreditando que a individualidade e a privacidade são assuntos pessoais e de interesse exclusivo de cada um. Somente dentro de si, cada um pode ser realmente livre.
Mas não creio que nenhuma desta canções seja “emblemática no repertório da música brasileira”. São apenas cancões que, umas mais, outras menos, encontraram seu espaço em gente que gosta delas, permanecendo vivas e importantes para alguns deles. De maneira geral, não tenho nenhum interesse em “música brasileira”, porque acho que a música é mais importante que nações ou linguas, e só existe porque determinados indivíduos a reconhecem como sendo sua, por afinidade com ela. Nosso gosto pessoal não tem ideologia, política, estética ou partidarismo sectário. É formado por coisas que nos tocam mais profudnamente, através da emoção e dos sentimentos, e nunca pela nacionalidade ou patriotismo. Obras são mais importantes que artistas, e se algumas delas encontram eco em determinadas pessoas, se tornam mais ou menos imortais para estas pessoas.
O conceito de “repertório da música brasileira” também me parece puramente industrial, imposto pelo sistema para com isso fazer mais dinheiro. Cada um de nós tem o seu próprio repertório, que toca diariamente no nosso radinho da ilusão, e nao tem nenhuma semelhança com o repertorio de outras pessoas. Talvez elas sejam emblemáticas para você, o que muito me alegra, porque isso me permitiu conhecer um pouco do seu repertório pessoal, o que é sempre agradavel, mas nao são nem universais nem absolutas, a nao ser para aqueles em quem se instalaram como importantes.
Publicado originalmente na International Magazine edição 143
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Esse foi o trabalho que mais me deu orgulho em fazer para o Zé Rodrix.
Certo dia Joel Macedo adentra a loja que eu mantinha em Copacabana com um amigo, Elias Nogueira, jornalista musical. Conversa vai , conversa vem o nome do Zé entra na roda e Elias me pergunta se eu não poderia intermediar uma entrevista com o Zé. Talvez pudesse entrar no próximo número da International Magazine. Sem saber da importância que isso teria para os envolvidos, e sendo usada como instrumento divino, entrei em contato , e logo estava feita a ponte entre Ze Rodrix e Elias Nogueira, os dois felicíssimos.
Existiu ainda, nesse enredo, um terceiro nome, o vértice desse triângulo, no qual estive no centro, à serviço da justiça do Grande Arquiteto do Universo!
Uma das últimas entrevistas de Zé Rodrix.