domingo, 28 de junho de 2009

1 mês sem Zé Rodrix ( msg de Julia Rodrix )

Zé Rodrix,Barbara Rodrix e Julia Rodrix em momento de confraternização
com amigos da M- Musica no Rio de Janeiro ( 2005)

Alan,


O que dizer? Como dizer?


Agradecer, os 26 anos que ganhei tendo o prazer e a honra de conviver com este homem, este mestre de tantas artes, este ser humano de tantos humores e de sabedoria imensa e paciência curta para pequenices, burrices, preconceitos baratos, mesquinharias? Dizer o que perdi? Tudo seria pouco e difícil.


O Zé sempre foi e será um homem controverso, tipo ame-o ou deixe-o. Agora vejo que até mesmo aqueles que o detestavam, no fundo, tinham por ele respeito. Pela sua honra, pela sua ética, pela sua dureza contra qualquer coisa que não fosse no mínimo correta e justa.


Como Maçon lutou para que a Ordem voltasse a ser modelo respeitando seus fundamentos, fez pela Maçonaria durante 10 anos o que muitos não fizeram por séculos. Ou desfizeram, tornando a Maçonaria forma de poder e disputa em vez de uma Ordem de justiça, ética e fraternidade.
Pela música, você bem sabe foi contra dogmas, cultos por pessoas em detrimento a obras, culto à mídia no lugar do talento verdadeiro.


Seus textos nas listas que participava não eram mensagens curtas mas lições, pensamentos rápidos e muitas vezes hostis e mordazes para aqueles que estavam preparados para aquilo que querem, podem e conseguem entender o verdadeiro significado da palavra, do pensamento, do conhecimento.Para aqueles que se ofendiam, ele dizia apenas para não se levarem a sério, para não darem tanta importância a si próprios e às suas vaidades pessoais.


Como Pai, fez pelos 6 filhos o que um pai pode fazer. Deu o exemplo de correção, não com palavras, mas com atos, com atitudes. Ensinou a cada um deles o valor de ter amigos, de ser fiel a seus valores, de ser fiel a seus princípios, e de que a pior coisa que se pode fazer é trair a si próprio fazendo concessões. Ensinou o valor do trabalho, da realização dos sonhos e o prazer de ler, de conhecer, da busca. Tenho dois filhos dele e mais quatro de herança que me foram dados por ele como uma bênção.


Marya, uma maravilhosa filha mais velha, que tem a voz mais linda do mundo, compositora, cantora de musicais e atriz talentosa. Uma mulher de muita fibra, que vai lançar seu primeiro disco agora para orgulho de seu pai coruja que postava todos os trechos de suas performances nas listas. Dela tenho uma neta torta de 16 anos que se chama Morgana e que é uma luz de beleza e carinho, e também de um talento extraordinário.


Joy, um anjo de meiguice e doçura, psicóloga, que está desenvolvendo um projeto de atenção integral ao paciente e pelo qual o pai estava empolgadíssimo. É a mãe da Amodini, uma bênção de 5 anos de idade, que me disse que a Natureza não foi justa porque levou o vô Zé antes dele merecer, e veio do Rio para me dar colo.


Rafael, seu filho de Natal, um homem maravilhoso em inteligência, delicadeza, carinho e um profissional exemplar, que me conforta e aconchega por ser tão parecido ao meu amor e por ter um caráter de fazer inveja a qualquer um.


Mariana, obstetra, sempre pronta a atender, a cuidar, é a fazedora, a nossa mãe nas horas das dores, dos cuidados.


Antonio, meu primeiro filho com ele, meu companheiro, meu porto seguro, que herdou a memória, a sagacidade, a inteligência e o humor ferino, mas que é a doçura em doses imensas.


E por fim (será mesmo?) a Bárbara, que alguns já conhecem, que tem seu gênio, sua musicalidade, opinião própria, seu jeito de compor completamente diferente do pai, mas também não dá mole, como ela diz, pra ninguém e não é bengala de ninguém.


Dona Lourdes, a mãe dele com 81 anos, que mora comigo e que está bem, sofrendo, mas sabe que temos que continuar a vida como ele nos ensinou.


Quanto ao meu melhor amigo, ao meu amor, ao companheiro de uma vida tenho pouco a dizer porque ainda não consigo entender, não consigo escrever sem chorar muito.Aos amigos só tenho a agradecer o apoio, ao amor que me tem dado e peço que não esqueçam sua obra, que não esqueçam seus ensinamentos, que não deixem que a mediocridade tome conta do mundo. Não permitam que o mundo emburreça, isto sim seria um insulto à sua memória. A burrice é o pior dos pecados, porque cega, anula e mata.


A você, Alan, muito obrigada pelo cuidado, pelo carinho e pelo trabalho que certamente eu te darei porque quero o endereço novamente do Orkut, quero os textos, que certamente lerei e selecionarei para uma publicação, seja pela editora ou pelo blog, ainda não sei. Todas as decisões serão tomadas por mim e pelos meus 6 filhos. Não sei como poderemos fazer isto mas gostaria de ter estes textos, todos os que estiverem disponíveis, tanto os dele como os dos admiradores, para poder ver o que fazer, afinal não vou deixar que suas palavras voem ao sabor dos ventos.


Um beijo e, mais uma vez, obrigada.


Julia para sempre Rodrix

26/06/2009


( mensagem de Julia Rodrix ao jornalista Alan Romero, dedicada aos fãs, amigos e admiradores de Zé Rodrix )


Morre Zé Rodrix

Amigo Zé, Adeus!

Faleceu aos 61 anos, em São Paulo, o compositor, cantor, publicitário, produtor e jornalista Zé Rodrix. Ele sentiu-se mal em sua casa e foi levado ao Hospital das Clínicas onde morreu no dia 22 de maio.

Deixou mulher, a escritora e produtora Júlia Rodrix , seis filhos, entre eles a cantora e compositora Barbara Rodrix e a atriz e cantora Marya Bravo e dois netos.


José Rodrigues Trindade, carioca de nascimento, integrou o Momento4uatro nos anos 60 ao lado de Maurício Maestro, David Tygel e Ricardo Vilas. Foi membro do Som Imaginário ao lado de Tavito, Wagner Tiso, Robertinho Silva, Luiz Alves e Fredera. Depois formou, ao lado de Luiz Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra, o trio Sá, Rodrix & Guarabyra. Fez parte também do Joelho de Porco. Gravou seis discos solo. Escritor renomado, publicou a Trilogia do Templo pela Editora Record, três livros onde dissecou a história da Maçonaria, ordem da qual fazia parte, e preparava novas obras. Deixou um disco inédito ao lado de Sá e Guarabyra. Como compositor criou clássicos do quilate de Casa no Campo, eternizada na voz de Elis Regina e Soy Latino-Americano. Fez trilhas sonoras para teatro, cinema e televisão. Na publicidade, criou jingles inesquecíveis para empresas como General Motors, Pepsi, Danone e Fininvest.


"Ao tomar conhecimento da morte de Zé Rodrix, mesmo sem crer, peço a Deus que o acolha com a decência e dignidade com que ele viveu, reservando-lhe como moradia, quem sabe, a tão sonhada "casa no campo", onde ele possa continuar compondo seus rocks rurais. Valeu, amigo e irmão!"
J. C. Gutierrez


Zé Rodrix e a Maçonaria:


Iniciado na Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Apóstolos do Templo” nº 241, Oriente de São Paulo, no dia 30/11/1991, onde foi Aprendiz Maçom até o dia 16/02/1993 quando foi elevado a Companheiro Maçom. No dia 15/03/1994 foi exaltado a Mestre Maçom pelos seus altos conhecimentos adquiridos sobre a Ordem. Pertenceu à Comissão de Comunicação na gestão do Grão Mestre Salim Zugaib. No dia 21/06/2000 foi instalado como Venerável Mestre de sua Loja. José Rodrigues Trindade partiu para o Oriente Eterno no dia 22/05/2009 da Era Vulgar deixando várias obras de altos conhecimentos maçônicos, contribuindo assim com a cultura e para o bem da humanidade.


Fonte: Correio Paulistano