quinta-feira, 27 de agosto de 2009

“Espaço Cultural Zé Rodrix” - Homenagem da APP

A APP - Associação dos Profissionais de Propaganda – (www.appbrasil.org.br), presidida por Paulo Chueiri, realiza na próxima segunda-feira, dia 31 de agosto, a partir das 19h30, um evento em homenagem ao músico e publicitário Zé Rodrix, falecido em maio.

Com a presença da diretoria da associação e convidados, o atual espaço de eventos, localizado na sede da APP, passará a se chamar “Espaço Cultural Zé Rodrix”, uma homenagem ao profissional que foi diretor e conselheiro da entidade por cerca de 10 anos. Na ocasião, estarão presentes a viúva de Zé Rodrix, Julia Rodrix, e seus filhos.

A sede da APP fica localizada à R. Hungria, 664 – 12º andar.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A MÚSICA DE SÃO PAULO (UMA MEMÓRIA PESSOAL) 5

Meu primeiro show solo foi no Teatro 13 de Maio, ali na Rua do mesmo nome, onde hoje é o Café Piu-Piu. Era um show metido a fantástico, com efeitos de magia e prestidigitação, e uma banda deliciosa denominada AGÊNCIA DE MÁGICOS, com a qual gravei meu segundo disco solo. Nesse teatro já estavam ensaiando os Dzi Croquettes, a genial invenção de Wagner Mello e Lennie Dale, que lançou em nossa terra as bases do que depois desembocaria nos Secos e Molhados: a androginia como ferramenta da arte. O Teatro 13 de Maio nunca mais foi o mesmo, depois do sucesso dos Dzi Croquettes, mais de um ano em cartaz, com casas cheíssimas. Os Secos e Molhados, ainda sem Neyzinho, eu conheci numa casa muito louca chamada Kurtiço Negro, nos baixos da Rua Santo Antonio, da qual, ninguém se lembra, e eu só tenho certeza de que existiu porque tenho fitas raríssimas de shows dessa casa, com Secos, Luli (mais tarde da dupla Luli & Lucina) e o Alfa Centauri, do Edu. Se não fossem esses registros, eu certamente duvidaria de minha sanidade mental.




Tempos loucos, muito loucos: Moracy Do Val esteve em minha casa, e eu lhe mostrei o LP de uma banda americana chamada Grand Funk Railroad, que despontara para o sucesso subitamente, vindo de um anonimato absoluto, com o expediente de aplicar 1.000.000 de dólares na compra de seu próprio disco, chegando ao primeiro lugar na lista dos mais vendidos, e dai em diante vendendo pelo menos mais cinco milhões de dólares, tornando-se sucesso instantâneo. Moracy Do Val fez o mesmo com os Secos e Molhados, aplicando uma grana sentida nos discos do próprio grupo, dando o start necessário ao que foi o maior fenômeno do disco de que o Brasil já teve notícia. Mas o destino tanto dá quanto cobra: nesse mesmo apartamento conheci dois amigos americanos de Lennie Dale, que ficaram fascinados com a idéia de uma banda de rock que só aparecia maquiada, e cujos rostos limpos ninguém jamais conhecia. Chamavam-se Gene e Paul, e não foi sem surpresa que algum tempo depois surgiu uma banda americana chamada KISS, ambos filhos das New York Dolls, que certamente eram a inspiração visual dos Dzi Croquettes.




Negócios, necessidades, mais uma mudança para o Rio de Janeiro, de onde só retornei, dessa vez em definitivo, em 1983, para a montagem do musical BANDAGE! meu e de Miguel Paiva, no Teatro Cultura Artística. Mas minha vida já se prenunciava paulistana, desde o dia em que na Via Dutra, chegando ao Rio de Janeiro, cruzei com o carro do Joelho de Porco. Trocamos telefones ainda em movimento, e mais tarde, quando cheguei ao Rio, me ligaram perguntando como eu poderia ajuda-los a destrinchar as necessidades documentais para que o show se realizasse. Coloquei imediatamente o meu secretario Tim à disposição, o show aconteceu, Tico Terpins ficou imensamente agradecido, pondo sua casa à minha disposição sempre que eu estivesse em são Paulo.




E aí começa a minha permanência cada vez mais constante em São Paulo, até a mudança definitiva para essas plagas. O Rio de Janeiro começava a dar sinais de deterioração, pelo menos em matéria de música e gravadoras. A Odeon ia sair do prédio onde fizera toda a sua vida, onde o melhor que o Brasil produzira em matéria de música havia sido gravado, e as paredes daquele espaço no Edifício São Borja, ali na Rio Branco, em cima do famoso Paisano, estavam impregnadas pela arte de tantos que nos antecederam. Temi pelos resultados, e meus temores se concretizaram: os estúdios novos eram frios, gelados, sem nenhuma vibração artística. Alem disso, a onda mais uma vez havia se direcionado para São Paulo, e a tal ponto que eu, mesmo morando em minha casa no Rio, trabalhava e estava baseado em São Paulo. A amizade com o Tico começou a ser cada vez mais intensa. Na casa que foi de seus pais, ali em frente à porta dos fundos da TV Tupi, vivemos momentos de prazer musical- gastronômico-sexual inesquecíveis, como apenas São Paulo podia nos propiciar. O Joelho de Porco estava em seus estertores, e o Tico resolveu acabar com ele de chofre, ficando em casa curtindo. Curtíamos todos, pois: era divertido demais. Minha carreira pessoal estava em franco declíni problemas pessoais e profissionais se avolumavam, minha fenomenal arrogância dando dezenas de sinais de que não era suficiente para manter-me vivo, e em contato com tanta coisa interessante que acontecia no panorama musical de São Paulo comecei a me perceber insatisfeito, inadequado, incontrolável, a ponto de explodir, e eu sempre explodia. Mudei de gravadora, por incompatibilidade de gênios com os gênios da EMI, fui para a RCA, que era sensivelmente pior do que a anterior comecei a tropeçar em meus próprios pés, e a única coisa que ainda me dava alguma satisfação era gravar coisas interessantes no porta-studio do Tico, com o qual se iniciou o que seria a nossa vida em comum durante os vinte anos seguintes. São Paulo havia se tornado meu refúgio, a casa do Tico meu porto seguro, os novos amigos a minha referência em matéria de arte.




Zé Rodrix

A Música de São Paulo 6


Estava a cada dia mais insatisfeito com o que fazia como profissão: meu momento de sucesso havia passado, e eu não me preparara para isso. Shows cada vez piores, cachês cada vez menores, começamos eu e Tico (que também não estava sabendo bem o que fazer da própria vida) a planejar uma forma de usar nossa tão decantada criatividade, que saia pelos poros, mas não nos rendia nada. Em vez de ficar ouvindo executivos de gravadoras dizerem a frase-chave de suas vidas: - “Porque vocês não fazem uma música mais comercial?”, deveríamos partir direto para a música mais comercial que havia, e que era a música para publicidade. Essa tinha vantagens sensacionais: era paga, aliás, bem-paga, e sempre contra entrega: já no mundo do disco tudo era feito em consignação, ou seja, você gravava e esperava pacientemente para ver o que ia acontecer, se acontecesse… Iniciamos a invenção de nossas personas-publicitárias, baseadas visualmente nos Blues Brothers, e para exibir aos executivos de agências de publicidade o quanto éramos criativos, criamos um monte de clientes fictícios e um monte de jingles inexistentes, que gravamos e começamos a levar às agências da época. Era um susto: quando entrávamos nas empresas, ainda muito tradicionais. ninguém entendia aquele par de loucos, um alto e um baixinho, vestindo ternos pretos, chapéus, óculos escuros, e com pastas 007 algemadas aos pulsos. Um desses diretores de criação, conhecido seca-e-meca por sua ousadia, ouviu nossa fita e decretou: -não tem lugar para vocês na publicidade. Vocês são criativos demais!
Na casa do Tico a vida era uma festa continua, como as sessões passatempo do Cineac Trianon: o espetáculo começava quando você entrava, e terminava na hora em que você ia embora. Uma festa atrás da outra, e no meio desse processo contínuo chegamos a inventar um grupo novo chamado CARECA & PENTEADO, imensa banda & Grupo coral, que se apresentou numa festa-à-beira-da-piscina na recém-inaugurada casa do Sergio Terpins, irmão do Tico, corintiano tão doente que morreu do coração no dia em que o Corinthians original veio jogar em São Paulo. Essa banda tinha dois vocalistas: Tico Terpins e o ator Ricardo Petraglia, que já havia sido João da Fúria em umas das versões anteriores do Joelho de Porco, e foi a primeira a fazer uso da linguagem desabrida e pornográfica que mais tarde diversos grupos-descendentes tornaram corriqueira.


O Joelho foi seminal para essas bandas: no teatro Lyra Paulistana, ali num porão da rua Teodoro Sampaio, dirigido pelo Wilson “Gordo” Souto Jr., surgiram movimentos, grupos, artistas, os verdadeiros criadores da nova música paulistana: recordo do Língua de Trapo, do Premeditando o Breque, do Rumo, de Cida Moreyra, de quem produzimos o primeiro show (dirigido por José Possi Netto) e gravamos o primeiro disco, um raríssimo LP selo Áudio-Patrulha.

O tempo passando, eu cada vez menos interessado em minha vida de artista/cantor e cada vez mais ficando em São Paulo vendo se dava para experimentar a realidade da música de publicidade, junto com o Tico, mas sem coragem para encarar aquilo com a exclusividade e o empenho que a coisa merecia. Um dia, estávamos almoçando no Jardim de Napoli, em Higienópolis, junto com Renato Viola, que à época era diretor da Band Records e estava gravando um interessante LP chamado BEATLES IN CHORO, com arranjos de Mozart Terra e a participação do inacreditável Carlos Poyares. O Jardim de Napoli era quase que nosso refeitório: ali íamos quase todo dia, inclusive fins de semana. levantei-me para ir ao telefone e no aparelho estava um homem dizendo: - Mas a Elis Regina morreu? Com um calafrio, voltei à mesa e falei do que tinha ouvido.- Tolice! disse um, - Estive com ela ontem! disse outro, e até eu mesmo, que a tinha visto dois dias antes, pretendi duvidar. Sempre alegamos a visão da vida como impossibilidade da morte, como se para morrer não fosse suficiente estar vivo. Tico, acostumado ao mundo de boatos que a mídia já impunha, foi mais racional: - Se ao sairmos daqui o rádio estiver tocando músicas dela, ela morreu. Dito e feito: quando saímos do restaurante, as rádios de São Paulo só tocavam suas músicas. No estúdio o rádio ligado confirmou a notícia, e eu gelei. pela primeira vez na vida uma pessoa próxima atravessava para o outro lado. Elis tinha sido quem me justificara como compositor, quando gravou CASA NO CAMPO, minha e do Tavito, e nossos encontros eventuais sempre tinham sido intensos em matéria de amizade. Sua imagem acenando para nós na porta da casa que tinha na Cantareira se repetia incessantemente em minha memória.

Não sei bem porque esta morte tomou tal volume dentro de mim, tornando-se a gota d’água que fez transbordar minha taça de amargores. Sei que fui ao velório no Teatro Bandeirantes, observando com distanciamento crítico o circo de abutres que se movia em torno do caixão, ficando calado quando os repórteres se aproximavam: sei que sai de lá meio nas nuvens, e que caminhei toda a extensão da Brigadeiro e depois da Av. Paulista debaixo de um céu estrelado de verão, fazendo pela primeira vez na vida um balanço de mim mesmo. Não gostei do que encontrei. Eu tinha sido até esse dia um ser-humano-de-segunda-classe, inconsciente de mim mesmo, movido por impulsos incontroláveis e delírios de grandeza sem nenhuma solidez. A morte de Elis, como um sinal específico do que poderia ser meu fim, me fez mudar radicalmente. No dia seguinte, já no Rio de Janeiro, desmontei a minha vida artística, cancelando contratos, shows, gravações, programas de TV, até mesmo um casamento, e mudei definitivamente, ou quase definitivamente, para São Paulo, onde iniciei o que foi a minha carreira mais importante durante 20 anos: tornei-me um criador de fonogramas publicitários, um “jinglista”, profissão que teve sua ascensão e decadência exatamente durante o tempo em que a pratiquei. Minha mudança verdadeira só aconteceu no fim de 82, e em 83 eu já era cidadão paulistano, cada vez mais paulistano, descobrindo em mim a verdade desse estilo de vida como verdadeira forma de ser, enraizada em minha alma exatamente da maneira como Torquato Neto programara e antevira.
Zé Rodrix

Música de São Paulo 7( Uma Memória Pessoal)

Os anos de 82 a 98 passaram com rapidez imensa, hoje percebo: quando se está fazendo o que nos agrada e que rende frutos visíveis, a sensação é a de um carrossel que gira sem parar, levando-nos cada vez mais a um estado de euforia extremamente criativo, cada vez mais vertiginoso, fazendo-nos esquecer da única grande verdade que existe: no Universo vivo, a única coisa permanente é a mudança. Mudamos muita coisa no panorama da música de publicidade: o que antes era um planeta totalmente separado do planeta musical se tornou idêntico a ele, influenciando-se mutuamente, graças ao nosso desejo intenso de usar no mundo comercial as conquistas artísticas de que tínhamos conhecimento. O mundo da publicidade se enriqueceu muito com essa interpenetração de mundos, e não foram poucas as colaborações que demos a campanhas publicitárias que efetivamente mudaram o rumo da publicidade brasileira, modificando inclusive a auto-estima dos profissionais da área, subitamente elevados ao patamar que sempre haviam desejado ter. Nasce dai a confusão que os publicitários fazem entre seu ofício e a Arte, tentando ser mais do que realmente são, certamente por insegurança de seu próprio valor real.

LIdamos intensamente com os dois mundos, e ao mesmo tempo em que criamos campanhas inesquecíveis para C&A, Coca Cola, McDonalds, Chevrolet, Fiat, entre muitos outros, cedemos nossos estúdios e nosso conhecimento da área para que muitos representantes da música paulistana registrassem suas obras. Os Titãs do “iê-iê-iê”, hoje apenas TITÃS, gravaram conosco seu primeiro disco, assim como o Língua de Trapo, o Tokyo e seu cantor Supla, e Tiago Araripe, e Cida Moreyra, e Edson Alves, e a Banda Mantiqueira, e até mesmo Aracy de Almeida, para quem produzimos um show no teatro Lyra Paulistana, só para gravar este que foi o último registro de sua verve e talento. Envolvidos no mundo mutável e variadíssimo da publicidade, em que a cada dia se enfrenta desafios totalmente diversos, a memória específica se torna apenas um registro básico: de nada me recordo, naturalmente, mas ao ser citada uma obra minha certamente me lembro, com espanto, dizendo a mim mesmo: - Puxa, fui eu que fiz isso? Fomos a primeira produtora a fazer uso da nova tecnologia de computação para geração de música, e o que hoje é corriqueiro em inúmeros estúdios já foi motivo de visitas e olhos arregalados por parte dos amigos. Além de produzir dois LPs-terapia do Joelho de Porco, que além de nos aliviar a alma alugada também serviam para renovar a atenção do mercado publicitário sobre nossa criatividade, agora já aceita e até exigida pelo mesmo diretor de criação que a acusou de ser excessiva alguns anos antes, fizemos trilhas para cinema e novelas, participamos de inúmeros eventos e festivais, sempre dando nossa contribuição à tradução de São Paulo, tentando torná-la mais-que-perfeita. Casei-me, tive filhos, plantei arvores, escrevi livros, de certa maneira para não perceber a passagem do tempo e a mudança que se avizinhava.
Seu primeiro sinal foi o próprio mercado de publicidade, inchado até o ponto de quase-ruptura pelos que dele se aproximaram exclusivamente por razões materiais, o que significa a quase totalidade dos que se dedicam a esse ofício. Outro foi a mudança de postura dos clientes, finalmente entendedores do processo de ilusão a que os publicitários os vinham submetendo, e que se profissionalizaram a ponto de entender mais do negócio que os próprios publicitários. Outro sinal mais poderoso foi a profissionalização da contravenção no mercado de música, com os bandidos amadores de vinte anos antes se profissionalizando e galgando degraus inacreditáveis no comando de empresas para quem a música passou a não importar, numa analogia com o mercado de pizzas, pois para o pizzaiolo o recheio não importa, desde que ele venda a pizza que o público não consegue deixar de comprar. Empresas começaram a fechar, gravadoras começaram a não ter mais controle sobre seus produtos, e eu via isso com crescente espanto, e muita preocupação. O sentimento de que os ventos da mudança começavam a soprar, e a perplexidade de ser aparentemente o único que percebia isso, já que os outros que também sentiam isso não tocavam no assunto, fazendo-o desaparecer ao esconder a cabeça na areia, foi-me gerando imensa preocupação. Infelizmente, não apenas em mim.



Uma quinta feira de Julho de 1998, depois de um jogo do Brasil na Copa do Mundo, meu sócio, irmão, amigo Tico Terpins pôs a mão no peito e morreu.
Ficar sem o amigo de tantos anos, minha referência em matéria de publicidade, música e vida, não foi fácil: o que me sustentou foi a beleza de São Paulo, e os outros amigos que venho fazendo nesse tempo todo, sinceros e verdadeiros. Em todo o caso, já que a mudança se apresentara, resolvi encará-la sem medo e me atirei de volta a coisas que não fazia desde quase 20 anos atrás: aceitei a proposta de meus antigos parceiros Sá e Guarabyra e reativamos nosso trio. Nossa reestréia se deu no Rock’in’Rio, mas foi em São Paulo que gravamos nosso CD/DVD, chamado OUTRA VEZ NA ESTRADA, perpetuado para a posteridade no palco do Teatro Mars, como prova cabal de mais um reinício.


Tenho o vício do reinício constante: a qualquer momento em que algo termine, com um estrondo ou um sussurro, eu já ponho o pé no caminho novo que se me apresenta à frente. não sei se é a São Paulo que não pode parar que me faz ser assim, da maneira como está enraizada em meu próprio ser. Mas a cada instante que passa surgem novas opções, e a música de São Paulo, que tem o saudável hábito de fingir-se de morta quando as condições históricas não lhe são agradáveis, pôs novamente de fora sua bela cabeça, de um jeito inesperado e nada sutil, quando fui convidado a comparecer a um clube de compositores que se reúne em um bar de Perdizes, mais exatamente na Rua Caiubi, 420.

A partir de uma certa idade, as homenagens são sempre agradáveis, e a gente não consegue perde-las. Pois essa resultou em imenso e inesperado prazer: nesse dia conheci uma nova e criativíssima geração de compositores completamente livres das velhas leis de mercado, da equivocada arte de massa, de ideologias-como-camisas-de-força, do abandono da Arte como forma de ganhar o próprio sustento. Em um período de duas horas, não mais, ouvi pelo menos 20 músicas fenomenalmente bem feitas, daquelas que cutucam a nossa emoção por dentro e não nos deixam espaço para racionalizar o que elas nos causam. A música de São Paulo, que me parecia morta, estava vivíssima, atuante, dando claros sinais de uso positivo da mudança que a gerara, Passei a freqüenta-los, a me abismar com sua forma de trabalhar, acabando por tornar-me curador de seu movimento, que tem dado bons e deliciosos frutos. Além disso, vejo a cada dia surgirem novos compositores e intérpretes, uma realidade muito parecida com a que eu vivi em meus tempos de pré-profissional, onde a alegria de estar a serviço da arte que se traz no coração é mais importante que tudo.

Como era de se esperar, a música de São Paulo, aqui do meu ponto de vista, renasce a cada instante, apoiando-se nos ombros dos gigantes que a fizeram para subir cada vez mais em direção as estrelas. Ou melhor: a música de São Paulo é como o Monumento das Bandeiras, de Victor Brecheret, ali em pleno Ibirapuera. O barco há de seguir, e se tem quem o puxe também tem quem o empurre, porque o trabalho conjunto é feito por todos, cada um de seu jeito. O barco tem que seguir sempre em frente, desbravando o futuro, apontando sua proa para o desconhecido que causa menos temor do que desejo. Os remadores que já não estão mais entre nos, e que em meu peito têm as caras de Torquato Neto, Elis Regina, Tico Terpins, seguem conosco, porque só desaparecem aqueles de quem não nos lembramos mais, e esses três, pelos motivos mais óbvios, têm a cara do futuro, que nunca é incerto: incerto é apenas o que ele nos trará, e por isso mesmo fascinante.

Vi o que vi, e só falo do que vi, vivi e experimentei: em meu peito, contudo permanece a grande ansiedade pelo que virá na próxima curva, no próximo dia, no próximo século. A música de cada época comporta imensas variações, seja por obra da evolução seja por obra da transformação, e seria equivoco julgá-la com base no critério que estiver atualmente imperando, pois este é apenas uma fase histórica mais ou menos duradoura, e que inevitavelmente desaparecerá algum dia, como já desapareceram as tantas que a antecederam, deixando o caminho livre para uma outra fase onde haverá outro critério completamente diverso, que nenhum de nós é hoje capaz de pressentir qual será. E nesse dia certamente surgirá alguém como eu que, com a mesma emoção à flor da pele, diga do que viu e viveu: - Meninos, eu vi!
Zé Rodrix



:::FIM:::

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nasi regrava canção do Zé Rodrix

Nasi prepara seu novo trabalho e incluirá uma canção de Zé Rodrix, gravada no CD IRA -Acústico , chamada "Por Amor". Para isso busca uma cantora com quem possa fazer um dueto em uma versão mais roqueira da canção.
Nasi gravou anteriormente, em seu disco solo, o clássico "Onde os Anjos Não Ousam Pisar" de Etel Frota e Zé Rodrix.

http://mtv.uol.com.br/noticias/nasi-fala-de-novo-trabalho-vmb-e-raul-confira-entrevista