domingo, 12 de julho de 2009

"Ele agora pertence ao mundo" - Julia Rodrix

Gostaria que você informasse a todos os amigos queridos que as cinzas do Zé foram lançadas ontem dia 11 /7 às 12 horas na Baia de São Vicente da Ponte Pênsil , um lugar que ele sempre dizia pro Soneka que gostaria de morar lá. Chegou a andar comigo pela ilha Porchat, e por alguns canto de lá pra escolher um apartamento pra que quando ficasse mais velho pudesse andar pela praia e escrever somente. O dia ontem chorou pelo Zé, choveu o tempo inteiro, sem parar um minuto sequer, mas assim acho que encerramos um ciclo, um tempo de dores, agora acho que temos como dever lembrar dele com a alegria e deixar que ele se espanda, se espalhe por todo o universo, pelas águas da sabedoria, que ele banhe os continentes, que ele , como a água, infiltre os corações com a sua ética inabalável, seu código moral estrito, sua memória prodigiosa e seu amor por todos os amigos. Ele agora pertence ao mundo que tanto queria conhecer, está pelos mares, vai poder estar em todos os lugares como era a impressão que se tinha dele, um homem onipresente pela sua grandeza de espirito. Vá em paz meu amor, você já não nos pertence, você agora faz parte do universo.
Júlia Rodrix

O (verdadeiro) Último Adeus Ao Zé

O último tchau pro Zé Rodrix foi hoje, um sabadão ( dia 11/7) chuvoso de dar dó. As cinzas do Zé foram ao mar exatamente onde ele dizia : - Ainda vou morar aqui. Na baía de São Vicente, de cima da ponte pênsil. Tirei duas fotos com o celular desconfigurado, danou-se quando fui ver tinha 10kb cada uma, ficaram ínfimas. Estavam Silvio e esposa, Julia Rodrix e dona Lurdinha(mãe), Julia Carvalho, Celina, Tavito.
Por Sonekka

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Os anos passados em Porto Alegre

Compositor foi colaborador de Zero Hora


Zé Rodrix morou em Porto Alegre – tocando, ensinando música e inclusive escrevendo para Zero Hora. Foi em 1969, quando ele e um grupo de amigos formaram o Grupo Revolucionário de Arte Livre (Gral) e também a banda de rock Primeira Manifestação da Peste.

Em entrevistas, Rodrix disse que, na época, veio “ser hippie no Rio Grande do Sul”. O músico Mutuca, que fez amizade com a turma, lembra:– Ele e a turma dele trabalharam no Rio até final dos anos 1960. Com a repressão, muita gente foi para a Europa. Eles vieram para cá.

Rodrix, com a Primeira Manifestação da Peste, participou do 2º Festival Universitário da MPB, realizado na Faculdade de Arquitetura da UFRGS em julho de 1969, defendendo a canção Copacabana me Engana. Na final, Rodrix tocou teclados com a banda de Mutuca, o Succo, da qual viria a se tornar integrante em seguida.

– Eu tive que sair da banda logo depois, e ele acabou entrando.

Eles fizeram um espetáculo multimídia no Teatro Leopoldina, tinha música, texto e projeções, bem no espírito da época – conta Mutuca.Rodrix também lecionou música no Educandário Cecília Meireles, na Cidade Baixa, e colaborou como jornalista de Zero Hora, escrevendo crônicas para a edição dominical do jornal, no caderno que viria a dar origem ao Segundo Caderno.

Zero Hora nº 15978 - Dia 23 de maio http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2519384.xml&template=3898.dwt&edition=12378§ion=999

REAL IMAGINÁRIO por Toninho Spessotto


REAL IMAGINÁRIO


Num oceano de desilusão
Onde por qualquer coisa se mata um irmão
Numa carreira cheia de tropeços
Onde pra vencer paga-se o mais alto dos preços

Num mundo triste onde grandes amigos
Se vão sem aviso, sem rota, sem chão
Eu me convenço de que trago comigo
Um vazio enorme dentro do coração

Se a canção não tem mais alternativa
A não ser trazer à tona um triste dia sem sol
Se o verso teima em tornar cativa
A voz do amor como se apagasse um farol

Eu sigo aqui vivendo de lembranças
Trazendo no peito o rasgo da saudade
Sinto falta do meu lado criança
Em que tudo era regado a felicidade

O que foi feito da nossa juventude?
Pra onde foi a vontade de crescer?
Onde jogaram nossa inquietude
E a rebeldia que nos fazia viver?

Não sei a resposta, talvez esteja no vento
Que insiste em soprar lembranças do bom tempo
Mas sei que me resta o peso da ausência
E a falta que faz o despertar da consciência.

Amigos são a família que escolhemos
Já dizia o sábio mestre dos segredos da canção
Ele se foi somente roupa e casca
Ficou a impressionante marca do coração

De qualquer forma meu irmão de batalha
Ficamos nós à volta dessa fogueira
Vertendo a lágrima que pinga da calha
O som da falta que é tão verdadeira

Trilhando a estrada vamos nos reerguendo
Colhendo os frutos que a vida plantou
Somando os números e sobrevivendo
Tentando achar o que ainda restou

Tenha certeza meu amigo querido
Tua partida até trouxe sofrimento
Mas em nome de tanto amor vivido
Nós compreendemos a grandeza do momento

Reergueremos a irmandade algum dia
Reformaremos o estatuto da morte
Ela jamais nos tirará a alegria
Se tornará um elemento de sorte

Muito Obrigado pelos versos precisos
Muito Obrigado pelo acorde envolvente
Muito Obrigado pelos sonhos concisos
Muito Obrigado por viver com a gente

Só não esqueça que ficamos mais pobres
Só não nos deixe assim sem esperança
E nos ajude a voltar a ser nobres
Esteja sempre na nossa lembrança

Vamos seguindo pela estrada de flores
Tentando achar a explicação da verdade
Conseguiremos rever todas as cores
Reconstruir a voz da felicidade


Toninho Spessotto
23/5/2009, 15 horas e 13 minutos



*Toninho Spessotto é jornalista, radialista, produtor e crítico musical e amigo do Zé!

Zé Rodrix por João Bani

Amigos queridos de M-Música , Caiuby, Cardiem e adjacências


Ando meio sumido, muito pelos caminhos impostos pela vida, muito por decisão minha (...).

O valor de amigos a gente reaprende quando vê um como o Zé iniciar uma viagem para um lugar onde aquele espírito inquieto, criativo,solidário e amigo vai continuar plantando consciências, reflexões,alegria, arte, caráter. Quando percebo o tanto tempo que fiquei sem conviver com a sua sabedoria, com sua amizade, com sua arte e com vocês.

A ultima vez que nos falamos foi no início do ano, onde ele dizia que estaria aqui no Rio em Março, lançando a trilogia. Não tive mais notícias do lançamento, e quando soube que o Trio tocaria no CCBB eu estava viajando.

Zé e aquela cortesia e amizade verdadeiras, relevando a acidez das nossas discussões pacientemente, culminando em trocas de receitas..kkkkkkkk. .. Quem o lia ferino e impiedosamente sarcástico nas trocas de mensagens e bem o conhecia , sabia que era a voz irônica de uma alma que gargalhava, dando pequeneza às coisas enquanto guardava para cada um de nós o verdadeiro tesouro que era seu coração.

Eu tenho muita gratidão, Zé , pelo carinho principalmente com minha família. Com Vania e os meninos. Com meu pai, que hoje aos 93 anos,ainda pergunta por você. Eu não tenho nem coragem de dar a notícia da sua despedida porque vou desabar no telefone e meu Velho pode ficar sentido. Num dos seus livros, meu pai fala que "Quase me casei em Rio de Contas" com uma Trindade, acho que Filomena, não lembro bem.Descobrimos que era Tia do Zé. Rimos muito sobre a possibilidade de que hoje poderiamos ser primos se o Professor Sá Teles não zarpasse sertão afora, deixando Rio de Contas...

Lembro das comidas no Play da Tânia, de uma vez que ele e Tavito cantaram coisas do Som Imaginário, num registro que ficou pra mim como uma das coisas mais bonitas que já ouvi de perto na música. As vezes em que "Teve Grajaú", o show do Sonekka e ZéEdu, o Caiuby ainda em Perdizes...Mas o que mais agradeço, Zé, é seu estímulo a tantos de nós pela nossa liberdade de criação. A força que você sempre me deu para compor, para moldar meu próprio caminho, independente de acompanhar artistas.
Antes tarde do que nunca, Zé, eu tenho tentado, obrigado, Bardo.(...)
bjos e abraços,

João Bani e Vania

**João Bani é percussionista

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Biografia ( em constante atualização)

Filho único de um mestre-de-banda, estudou no Conservatório Brasileiro de Música e na Escola Nacional de Música, onde aprendeu, além de teoria musical, harmonia e contraponto, piano, acordeom, flauta, saxofone e trompete. Iniciou sua trajetória artística no Colégio de Aplicação do Rio de Janeiro, onde estudou por 9 anos, cujo grupo de teatro foi membro fundador e no qual começou a exercer as funções de ator, diretor, cenógrafo e compositor de trilhas sonoras. Em 1964, entrou para o curso de teatro de Maria Clara Machado, o Tablado, onde participou de montagens das peças "O cavalinho azul" e "Arlequim servidor de dois patrões".

Em 1966, com o conjunto Momento 4uatro, se apresentou no III Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967, acompanhando Marília Medalha, Edu Lobo e o Quarteto Novo com "Ponteio". No início dos anos 70 foi integrante do Som Imaginário, e continuou atuando como compositor. "Casa no Campo", composição sua e de Tavito, ganhou o festival de Juiz de Fora em 1971 e foi gravada com grande sucesso por Elis Regina. Atuou também ao lado de Sá e Guarabyra, no trio que lançou o segmento rock rural. Integrou também o grupo pré-punk Joelho de Porco. Foi ainda criador de vários musicais brasileiros ( Blue Jeans, Band Aid, Não Fuja da Raia, entre outros) e criador de trilhas cinematográficas, entre as quais, com seu parceiro desde os tempos escolares Miguel Paiva, "O Gatão de Meia Idade".
Teve outras ocupações além da música: foi jornalista, professor e cozinheiro e escritor, tendo iniciado com o livro "Diário de um Construtor do Templo" em 1999, a “TRILOGIA DO TEMPO “. Com poucos LPs solo gravados, foi dono do estúdio A Voz do Brasil, produzindo jingles e músicas comerciais, muitos premiados.

Meu último abraço ao Zé Rodrix - Marcelo Tas


Fiquei tocado com a notícia da morte prematura de Zé Rodrix. Na semana passada, estive com ele em Palmas, na Feira do Livro, que acontecia na capital do Tocantins. Foi no instante logo a seguir da foto que você pode ver no post abaixo. Nos encontramos no camarim. Fui recebido com o carinho e alegria de sempre por ele, que estava ao lado dos seus eternos parceiros Sá & Guarabira. Na sequência, o trio faria um show de encerramento do evento, naquele mesmo palco. Demos boas risadas, nos abraçamos e nos desejamos boa sorte para seguir o caminho.


Envio aqui o meu afeto e pêsames aos amigos e família do querido José Rodrigues Trindade.

Rodrix, além de músico, multiinstrumentista e compositor, foi autor de inúmeras trilhas sonoras da publidade e televisão brasileiras. Entre elas, a do Professor Tibúrcio, do Rá-Tim-Bum. Tive a alegria de trabalhar com ele na criação da "sala de aula virtual" que, após o "Olá Classe", respondia "Olá Professor Tibúrcio".

Que a alma criativa e generosa de Zé Rodrix descanse em paz e continue nos inspirando sempre.




http://marcelotas.blog.uol.com.br/arch2009-05-16_2009-05-31.html#2009_05-22_15_21_48-5886357-0

"Zé da Roda com os carneiros solenes do céu” - José Nêumanne Pinto


Zé Rodrix morreu na sexta-feira 22 de maio de 2009, à 1 hora da madrugada, e, desde as 5 da tarde, a hora em que os toureiros são colhidos pelos touros quando não os matam, passou a ser velado na grande loja maçônica da rua São Joaquim, 138, na Liberdade, de onde sai sábado 23 de manhã para ser cremado na Av. Francisco Falconi, 437, no crematório da Vila Alpina, em São Paulo, cidade que ele muito amou depois que a adotou, tendo abandonado a Rio de Janeiro natal. Abaixo o texto com que presto mais este elogio fúnebre em 12 meses de muitas perdas.


A primeira vez que vi Zé Rodrix na minha vida foi em 1967 na Rua Rui Barbosa, no centro de Campina Grande, Paraíba, se bem que ainda não pessoalmente, mas, sim, na tela em preto e branco do televisor de casa, pela qual acompanhava com fanatismo os festivais de Música Popular Brasileira. Então, ele fazia parte do Momento 4uatro, que acompanhou Edu Lobo e Marília Medalha em Ponteio, a canção de Edu e José Carlos Capinam que venceu o III Festival de MPB, da Record.

Depois, no começo dos anos 70, quando me mudei para sua cidade natal, o Rio de Janeiro do Flamengo e da Mangueira, aprendi, cantando com ele, que “a palavra já morreu”, refrão de um sucesso do Som Imaginário. O conjunto (como se chamavam as bandas à época) acompanhava Gal Costa num show em São Paulo quando, enfim, nos conhecemos pessoalmente.

Fiel a seu espírito de revolucionário folgazão, no meio do espetáculo improvisava um inesperado solo de máquina de escrever. Um leitor, que não havia gostado nada daquilo nem muito menos de meu elogio ao desempenho dos artistas, impresso na Folha Ilustrada, da Folha de S. Paulo, me telefonou para dizer que o espetáculo era tão ruim que um dos acompanhantes da cantora baiana deixava de tocar para escrever uma carta.


Como o Brasil inteiro, aplaudi Elis Regina cantando Casa no campo, composição dele e de seu maior amigo, o mineiro Tavito, e batia palmas ao compasso da salsa no refrão de Soy latino-americano. Mas só nos apertaríamos as mãos graças à internet quando ele voltou a compor, ao considerar encerrada sua temporada de publicitário, na qual havia encantado o Brasil (e eu junto) com um longo jingle de um Chevrolet.

Passamos a frequentar aos sábados, a musa Júlia sempre ao lado dele, as livrarias da vida - a Azteca, nas Perdizes, a Boa Vista, na Faria Lima, e, finalmente, a da Vila, na Vila Madalena. Encantava a roda formada pelo romancista Humberto Mariotti, por Aquiles Reis, do MPB4, e por seu ídolo, o poeta Mário Chamie, contando casos do tempo da luta armada, da qual participara e que lhe servira de definitiva vacina contra quaisquer tentações totalitárias e estatizantes.De volta à música pela internet, fazendo sucesso na literatura como autor de uma trilogia de romances sobre a construção do templo de Jerusalém, o Zé da Roda, como eu o chamava na livraria (sendo por ele chamado de Zé da Neuma), se havia tornado um inimigo figadal do financiamento público de obras de arte, por achar, com razão, que esta é a pior forma que os autoritários encontraram para abastardar a cultura.

Cultor da canção, como autor ou exegeta, pregava aos quatro cantos que esta sua forma capsular de expressão estética tinha mais valor que livros, quadros, concertos, filmes e peças teatrais, exatamente por ser completa em sua forma sintética de comunicação.

Solidário por vocação, Zé compôs sozinho e em parcerias e também cantou em bandos na condição de adolescente permanente: Joelho de Porco, com o sócio Tico Perkins, e, desde sempre, o trio de rock rural Sá, Rodrix e Guarabyra, cuja temporada de shows só foi interrompida pela visita da Indesejável das Gentes em seu refúgio no Sumaré, onde foi golpeado por um enfarte fulminante, ao lado de Júlia, como passou todos os dias dos últimos anos de sua vida.

O amigo generoso e atento continuará nos provocando e incentivando onde for que nos encontrarmos. O artista talentoso e gregário deixou sementes de canto na filha mais velha, Marya, e na caçula, Bárbara.
Mas ele sempre fará falta, ao encerrar, desta forma trágica, um ano de perdas, que decepou de minha vida as companhias de Toinho Alves (do Quinteto Violado), Walter Santos, J. B. Lemos, Tereza Sousa e Walter Silva Picapau.
Ao lado deles, na certa, ele agora tem um encontro marcado com um rebanho de carneiros solenes pastando nos jardins do céu.

José Nêumanne Pinto
(atendendo a um pedido de Julia Rodrix)